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27 de out. de 2009

CONTOS E POESIAS INTERESSANTES


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 O BICHO

Vi ontem um bicho                                                           
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato.     
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

Rio, 27 de Dezembro de 1947.
Manuel Bandeira. Estrela da Vida Inteira.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993
(20ª ed.), pp. 201-202 e 222
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A BARATA BARATINADA
                                                                          
(Conto de Mírian Cavalcanti Prado)

De manhã bem cedo, aparece, vinda de lugar não sabido, aquela barata tonta. Voadora como o quê, aterrissa no campo de uma conceituada padaria da cidade. Levada pelas sensoriais e aguçadas antenas sente se atraída à vitrine de bolos, certamente a mais convidativa.
O pouso seguido da trajetória da praga é acompanhado de perto por muitos que ali, perplexos, observam a enxerida do lado de dentro do vidro. Uma madame, mais sensível, não se contém e solta os gritos presos na garganta até então. Apontando os detalhes do que vê sobre as massas confeitadas; longo espaço percorrido pelo inseto que, em cada parada vai defecando e se esfregando num vai-e-vem nojento de patas cabeludas, ostentando asas sobrepostas deitando e rolando no adocicado e farto tabuleiro.
Logo à frente avista com seus olhos facetados um esconderijo que, a propósito, veio a calhar. Acomoda-se no acesso da entrada sob aquela fortaleza que toma como sua; depois de escorregar do alto de um bolo de casamento, “despenhadeiro” abaixo, por entre “muros” escuros rebocados de chocolates. Talvez assustada com os crescentes protestos de repulsa, finalmente, ali, a aventureira fica esconsa.
Mas, todos com os olhos fixos no confinamento, aguardam com expectativa a sua saída do lugar impróprio, onde, temendo algo inescrupuloso sobre os alimentos, ninguém tascava contra a vida daquela pequena envernizada. A freguesia a postas ao espetáculo, limitava-se convencê-la apenas com palavreados como “xô bicho”, “psiu”, “arre”... Até uma confeiteira mais destemida, saída de um reservado dos fundos, empunhando uma concha de alumínio se encorajar a forjar um ultimato contra a bendita, dona da situação. Assim, vai desbarrancando com cautela a massa envolta ao alvo, de jeito a evitar o inseticídio.
A pretensão da torcida que era levá-la dali viva, para ser esmagada em outro local, se desfaz.
Quando menos se esperava, a dita cuja resolve furar o cerco e levanta voo. Efetua uma espetacular rasante na cabeça dos deslumbrados que ali se encontram. Medrosos e sem olhar onde, foram subindo em balcões, estufas, prateleiras, mostruários, torradeira de café, refrigerador... Só depois de se sentirem seguros desceram de suas alturas e voltaram todos às atividades normais.
Sumida por alguns minutos, eis que um freguês mais tranquilo que lanchava ali sentado numa mesa de canto, recebe um safanão e retruca com um berro ao perceber a tentativa de pouso no seu prato de salgado. Acerta a mão no seu alvo, tangendo a voejante para o lado de mais movimento. Daí pouco restava para a pobre ser encurralada para o inevitável linchamento. Um pontapé certeiro daqui, outro dali e a danada ficou espremida no chão.
O destrinchamento repugnante (por sorte do dono da padaria e por que não dos demais?), aconteceu fora das guloseimas. Menos mal.
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 Ano de 2010 partiu
Numa noite toda iluminada pelos fogos de artifício
as estrelas  dos céus recolheram-se
e as nuvens rodopiavam, refletindo suas formas
nos mares e lagoas
Agora... novo amanhecer... esperanças...
        
bjs da Rose





Noite...silêncio...tédio de viver...Vida vazia...só consigo sentir saudade...Mas, sentir saudade não resolve nada...Porque quem eu quero não pode estar aqui Onde estou sozinho, e eu sem poder estar lá Bastaria tão pouco para que eu fosse felizUma simples despedida de tudo agora Mas nem sempre se pode fazer tudo. O que queremos, ainda mais no momentoEm que desejaríamos.Minha cabeça já virou calendário Cansei de tanto contar dias, horas e até minutosPara chegar ao encontro desta felicidade separada por quilômetros.Mas quando chega este momento ele passaTão rápido, que a saudade ao invés de diminuir, intensifica.Meu Deus, até quando? Eu sei que é até algum dia Mas e este dia que não chega, cada momento que passa parece esta mais longe, já cansei de escrever cartas, cartas nunca dizem o que sentimos verdadeiramente.Queixar também não adianta.O jeito é continuar sentindo saudade,até estaSaudade virar presença.ajustar("box5")05/11/09 21:29 - GILDO OLIVEIRA
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CADÊ OS CACHORROS?



                                                              
(*Conto de Mirian C. Prado)

Petrina recebeu o pacote de carne da mão do Sr. Genaro, seu patrão. Cantarolando, dirigiu-se à bancada de granito da cozinha, onde deixou o embrulho fechado. De volta 5 minutos depois, com faca amolada em punho, já se encontrava pronta para dividir os cortes do 'então' frango congelado. Mas, antes para e pensa com admiração: - Que ave grande ? Seria um avestruz? Uma ema?
Sr. Genaro, inexperiente em culinária, queria saborear o suposto frango ao molho pardo; ainda mais sabendo ser essa uma das especialidades da  sua nova cozinheira tão prendada em forno e fogão.
Atenta, a moça dá logo início aos recortes. De imediato sente dificuldade de encontrar o ganhador. Onde estaria? Aquele pedaço que tanta competição traz em meio à criançada? Prática no assunto, de cara, deu falta também do coração, e de outros miúdos que costumava receber na compra do produto lacrado.
A quantidade de ossos no corpo do animal, causava-lhe espanto. A ausência dos pés, um ponto de referência inconfundível... Tudo bem! poderia ter sido uma falha dos embaladores, mas, e a moela? Onde estaria?
Tudo muito esquisito. O certo é que Petrina não conseguia encontrar as juntas certas...na hora errada! Já que o patrão aguardava ansioso, com água na boca, aquele saboroso prato exigido, o de sua predileção.
Naquelas alturas nem precisava ser expert para saber que os ossos das pernas também eram estranhos... Eram bem mais alongados que os da suposta ave. Foi aí que, sem medo de errar, ela descobriu e falou com a patroa que não estava diante de um galináceo.
A carne foi então levada à investigação, e lá mesmo ficou depois de inspecionada. Veio o resultado onde se concluía que o material examinado não era comestível por se tratar de carne de cachorro! Carne essa oriunda de açougue duvidoso onde seus “empresários” astutos e desconfiados recebiam o dinheiro fácil dos clientes crédulos que tantas vezes eram iludidos com a falsa aparência da mercadoria .
A polícia foi então comunicada e logo que chegou ao abatedouro de onde se originou a tal carne, interditou o local; o que não poderia ser diferente, após a constatação de 60 quilos de carne de cachorros mais dois gatos congelados num freezer. No quintal também foi encontrado um velho cão vivo, triste e pronto para o abate com ferramentas que ali estavam expostas, mais parecidas com as advindas de um filme de terror.
Ademais, as imediações do tal “açougue”, já demonstravam possíveis indícios para tal atrocidade... Ali, não se viam gatos nem cachorros vadios perambulando pelas ruas como em qualquer outro lugar desse mundo. Onde estariam eles latindo e miando àquela hora? Era a pergunta que quase todos fariam...
Mal sabiam que muitos deles já haviam ido para o céu... Para o céu da boca de inocentes consumidores que até hoje, não sabiam ao certo de quem se tratava a carne que comiam.



*Conto inspirado no “Açougue de carne de cachorro em Suzano SP").


O Norte de Minas
CERCO AO MACHISMO 11/03/2010
                                                                                 
(Mirian Cavalcanti Prado)


Antes de ser emancipada, a mulher estivera às voltas com manifestos que contrariavam a sua liberdade. Egocêntricos, os homens temiam a possível chegada ao momento decisivo em que a partir de então, tivessem de enfrentar a divisão do seu lugar em potencial.


Sem voz nem vez para mostrar as suas aptidões, a figura feminina enternecida, resumia seu maior desejo no sonho de um futuro próspero, impossível de se realizar.
Era ela senão, pássaro aprisionado, enfermo e entediado. Exausta, ela decide por apelar.
Destemida vai à luta forçando uma brecha para que as suas razões pudessem adentrar. Foi assim que iluminada pela fé, nasceu uma luz na possibilidade da conquista. Finalmente.
Em princípio, a mulher teve que enfrentar resistência. Protegido pelo marketing, o homem, vociferava controverso agarrado ao seu pedestal. Pois, nunca havia antes transferido à mulher nenhum dos privilégios a ele concedido. E, até então, não conhecia razões para se mergulhar nesse tipo tão amargo de “fel”.


Com o passar do tempo o preconceito e a ignorância masculina foram sendo substituídos pela imagem do homem maleável e pelo fortalecimento do espaço por elas vencido. O homem cabisbaixo e prepotente, cede. Vê de resto o chão para nele se arrastar.


Aos poucos, o lado impossível foi sendo substituído pela possibilidade. As asas dos machistas foram sendo podadas com o mesmo cortante usado para liberar as feministas das amarras. Num ato simultâneo, ambos foram admitindo a aceitação de seus lugares.


Equiparada ao homem, a mulher trôpega se ergue e, altiva começa a desvendar o seu mistério. Cicatrizam-se as chagas profundas que vinham carcomendo as suas entranhas.
A figura feminina respira aliviada e, sem mágoas, volta-se o olhar para trás, e bem distante confronta o passado com o presente. Só assim percebe a oportunidade que lhe foi conferida.


Sem mágoas pelo fardo que carregou quer apenas avaliar algo que lhe é dado refletir. Ela, mártir de seu ideal, foi um baluarte que nos orgulha. No passado, bem que poderia ser uma de nós, ou uma de nossas avós. Desnudando os tempos idos, imaginamos o que teria acontecido com tantas outras mulheres que nos antecederam ?


Sem dúvida lutaram bravamente por nós, com vistas a um bom lugar em época propícia onde pudessem proteger seus descendentes.
Indefesa, nossa avó de antigamente, remontou no tempo seu desejo de conquistas.
Ignorada, imortalizou ao verdadeiro sentido, à história do destino que traçou. Ao observarmos o seu papel de protetora dos seus herdeiros, vemos também a dimensão do espaço que bravamente conquistou.


Decorrente da luta feminina, o homem passa a aceitar, mesmo a contragosto a sua parceria com a mulher de quem neste momento usufrui e, aprova a nova máxima admitindo-se categoricamente a definição de um grande homem ser aquele que atrás de si tem sempre uma grande mulher.
05/2009


                                     

25 anos depois


Para Maria Letícia e aqueles que torciam por ela, as vésperas de natal de 1983 ficaram marcadas de maneira especial.A falta que tanto fez a sua presença entre nós, imprescindível nas confraternizações de amigos ocultos, na ceia da meia noite, enfim, o momento difícil conforta-nos saber que foi por uma boa causa.
Depois de muita luta e de ter conquistado o seu espaço na Europa, ela integrou-se às badalações do primeiro mundo. A “Cinderela” que trazia dentro de si, é coisa do passado. Distante dos seus costumes encarna a sua história de princesa com direito a castelo, príncipe, varinha de condão e a realidade a que ostenta, muito além de uma pseuda-carruagem feita de abóbora.
Nos bulevares de Paris é onde mora com a família a metade do ano que passa afastada da Itália, o outro endereço da gloriosa amiga, daquelas que fazem suspirar os leitores de Sheldon.Conheci Maria Letícia durante um encontro religioso aqui em Montes Claros. Lembro me bem de termos nos identificado a primeira vista o suficiente para não deixar margens sobre a amizade que dali nascia.Não tive dúvida de que se tratava de jovem desenvolta cuja experiência era visivelmente maior do que os seus 18 anos pudessem permitir.
Ela passou a freqüentar a minha casa e eu a me interessar pelas suas conveniências no alcance das suas pretensões.Extremamente afável e falante e, com 1,80m estatura no quesito corpo, tinha tudo para se consolidar como queria na carreira de modelo. Além desses atributos, dotava-se de outras particularidades indispensáveis para os padrões europeus.Realçada pelo mérito dos seus dotes, rompe os limites, toma a beleza como ingresso e revela o refino da sua vez no podium das passarelas do outro lado do mundo.
Corajosa, afeita a transpor barreira, nada lhe custaria ultrapassar fronteiras e deparar com uma inusitada realidade. Talvez a ousadia que lhe era peculiar tenha contribuído a sua chegada sem delongas às portas daquele tão esperado dia em que Sairia do Brasil num vôo de São Paulo/Europa dando início à tão sonhada missão.A sua obsessiva tendência em desfilar modelos, ao que tudo indica, pode ter se saído aos pais prendados em confecções. Vinda do nordeste, certamente num pau- de- arara, a família chega feliz em chão norte-mineiro e sem demora começa a explorar aquele campo que julga propício e lucrativo.Maria Letícia sofreu no passado tudo que as personagens Sheldonianas padecem antes de triunfar: a tibieza dos rapazes bonitões, o desdém das colegas imponentes do Colégio Imaculada onde ajudava na faxina em troca da gratuidade dos estudos, sem contar com o descrédito de consultores da moda quando confessava, por exemplo, a pretensão de desfilar modismos nas passarelas de fama.
Completar 19 anos para ela significava o último reduto para que pudesse emplacar os seus ideais. Mas como sabia que a fé é capaz de promover milagres, com ela não foi diferente.Em tempo hábil tudo foi se encaminhando dentro dos conformes.Junto ao passaporte que traduzia um caminho cheio de expectativa de sucesso, veio a sensação de vazio entre nós seus amigos. Até a sua ida, foram muitas as comemorações de despedidas.Cinco... Dez... 25 anos voaram.Com esse fazer brincante, lá se foi um quarto de século.
A ausência da companheira emblemática foi sendo amenizada pela esperança de tão logo revê-la, ainda que tardia.O desfecho desta trajetória veio culminar com a grata surpresa ao visualizar uma longa mensagem no meu e-mail. .O estilo refinado e culto dos dizeres da amiga, hoje também escritora, começa por referir o meu endereço como um grande achado da sua vida. Ao silêncio atribuía uma falta irreparável e desnecessária ao nosso convívio. Seguido de agradecimento pela força que nela fortaleci, não esquecia da minha vontade de ver seu sonho concretizado e de ter contribuído sobremaneira para que tudo se fluísse a contento.Enfim na sua modéstia tão peculiar, fala em belíssimas palavras do seu reconhecimento: “... A sua dedicação tão amiga é imensurável. A minha separação impreterível se ressalva pelas recomendações de suas preces. Pois, você é alguém com quem pude contar naqueles momentos instáveis da minha vida...”
Mesmo não podendo negar o que o destino já lhe havia conferido, minha amiga confirma o óbvio com restrição. Explica com seu modo simples de sempre que não deu o pulo do gato através dos grandes contratos de publicidade como das empresas de cosméticos ou perfumes que transformaram de verdade suas colegas mais famosas. Com entusiasmo ressalta a intimidade, do seu feliz consórcio e fruto deste: “... Estarei no Rio muito em breve, levando comigo o meu querido esposo Laurent e meu filho Henry gostaria de vê-la e apresentar para você o que melhor aqui conquistei...”.Em outro parágrafo expressa com simpatia, em rebuscadas palavras, o sentimento muito mais vivo que ainda nutre por mim. Pelo que dela sei, evidencia um sentido inesquecível e duradouro atribuindo-me a uma espécie de sua fada madrinha no cenário dos encantos conquistados.
Hoje, depois da obrigação cumprida faz uma mea culpa pelo tempo interrompido dizendo estar muito mais tranqüila e disponível a dedicar toda a atenção da qual se dispõe.“... Realizei profissionalmente, mas, sinto não ter cumprido ainda a minha missão precisa. Agora mais propicia venho resgatar o contato amistoso que das minhas raízes brotaram. Agradeço a Deus por tê-la colocado no meu caminho; você é uma referência positiva que tenho de amizade. Quero por assim dizer que esses laços existentes entre nós tiveram princípio e, não foi por acaso que você me possibilitou desviar tantas vezes dos caminhos equivocados...”
Obrigada, amiga Maria Letícia pela expressão de gratidão e amizade que no seu íntimo traduz. Que seu exemplo de vida sirva de lição para quem não acredita em sentimento de afetividade conservando no pensamento sempre, o amigo certo.Aliás, orgulho-me quando penso que assisti todos os meus amigos mais queridos tornarem-se de alguma forma realizados, porque o sentimento que julgo se unir ao outro com sinceridade, é aquele que se sente compensado com a conquista do outro.As verdadeiras intenções se caracterizam como sendo de um velho conhecido com quem podemos ser nos mesmos e a quem dedicamos nosso afeto sem restrições, sem expectativa de retorno.
Postado por Mirian C. Prado às 11:16

1 comentários:

Maria Letícia disse...
Obrigada Mírian, mais uma vez agadeço pela atenção amiga que sempre me dispensou.Dia 20 estarei enviando o livro de biografia.Conforme e-mail de22 de fevereiro passado.Bjos.Letícia


O assassinato da Língua Portuguesa          
Assassinaram a Língua Portuguesa. Pelo menos era isso que se desconfiava quando a polícia fora chamada por uma de suas amigas íntimas, a Literatura, assim que esta encontrou o corpo estirado no chão de sua própria casa.Chegando ao local do crime, foram direto examinar o defunto que estava em péssimo estado, mesmo tendo morrido há tão pouco tempo. Resolveram iniciar as investigações imediatamente, com interrogatórios, começando com a própria Sra. Literatura.Ela, metodicamente, insinuou que existiam muitos suspeitos e por solicitação do detetive encarregado do caso, indicou alguns nomes.A primeira a falar foi a Hipérbole. Chegou gesticulando muito e quase aos berros, foi sala adentro, dizendo ter um álibi, o Sr. Eufemismo que por sua vez confirmou a história da interrogada anterior, não sem antes colocar panos quentes na situação, amenizando a situação com termos mais agradáveis.A Metáfora foi a seguinte. Passou o depoimento inteiro comparando e colocando as coisas no sentido figurado em relação à Língua Portuguesa.A antítese, próxima da lista, quase enlouqueceu o detetive, contradizendo-se a cada instante.Trágico foi o depoimento da onomatopéia, fez todos os sons possíveis desde o acordar da vítima até seu último suspiro, afirmou ela que isso não passava de imaginação e que não sabia o que havia acontecido.A Apóstrofe, sempre polêmica, ficou o tempo todo invocando todos os tipos de entidades possíveis para garantir-lhe a inocência.Seguiu-se com o relato da Catacrese, que até tentava, mas não conseguia expor com exatidão suas idéias e lembranças do que ocorrera, substituindo sempre por expressões não muito apropriadas. Isso confundiu ainda mais o detetive que pediu um tempo para raciocinar.Após a pausa foi a vez do Disfemismo. O detetive arrependeu-se de escutar todos aqueles palavreados chulos e sarcásticos expelidos por ele e que não ajudaram em nada.A Ironia, não queria saber de colaborar, não porque não queria, mas sim porque fazia parte de sua natureza.E mais suspeitos foram ouvidos, entre eles a Metonímia, o Paradoxo, a Perífrase, o Sarcasmo, a Elípse e o Pleonasmo, cada qual com sua personalidade e seu relato.O detetive, mesmo após ter ouvido tantos suspeitos, não via um motivo sequer para que algum deles viesse a cometer tal crime.Lia, relia e lembrava de cada um e não achava um assassino em potencial, até porque todos conviviam harmoniosamente com a vítima. Não satisfeito mandou chamar novamente a Literatura.A nobre senhora, já de idade avançada, porém ainda viva, relatou tudo novamente, como havia encontrado o corpo, o que houvera acontecido no dia anterior. Quanto mais ela falava mais o detetive ficava convencido que não havia um assassino.Horas depois, o detetive pediu para que todos estivessem reunidos na casa da Literatura para que ele desse o motivo pelo qual morreu a Língua Portuguesa. E lá estavam todos, suspeitos e não suspeitos quando foi iniciado o relato da autoridade:- A Língua Portuguesa não foi assassinada por nenhum de vocês, não diretamente! – Iniciou o detetive, seguido de várias interjeições de surpresa. -Sim, a Língüa Portuguesa morreu de solidão. Abandono por assim dizer. - continuou ele em monólogo, seguido de mais espanto.-A Língua Portuguesa estava acostumada a ser visitada por todos vocês aqui presente, desde as figuras de linguagem até as concordâncias. E com o passar tempo, passaram a freqüentá-la cada vez menos, até o abandono total. E digo mais, se isto continuar, vai acontecer o mesmo com a Literatura. – falou, olhando tenramente para a doce anfitriã.Depois que refletiram bastante sobre o acontecido, saíram da casa da velha Literatura com a promessa de voltarem sempre e dedicarem-se a recuperar a Língua portuguesa, pois uma língua não desaparece por completo, por mais que a assassinem.
Luck Siqueira 
BILHETE DEIXADO PELO FILHO... UM FINAL FELIZ !!!

O pai entra no quarto do filho e vê um bilhete em cima da cama. Ele lê o bilhete temendo o pior: 

Caro Papai, é com grande pesar que lhe informo que eu estou fugindo com meu novo namorado, Juan, um Argentino muito lindo que conheci. Estou apaixonado por ele.. Ele é muito gato, com todos aqueles 'piercings', tatuagens e aquela super moto BMW que tem. Mas não é só po...r isso, descobri que não gosto de jeito nenhum de mulheres e, como sei que o senhor não vai consentir com isso,decidimos fugir e ser muito felizes no seu 'trailer'.

Ele quer adotar filhos comigo, e isso foi tudo que eu sempre quis para mim. Aprendi com ele que maconha é ótima, uma coisa natural, que não faz mal a ninguém, e ele garante que no nosso pequeno lar não vai faltar marijuana. Juan acha que eu, nossos filhos adotivos e os seus colegas 'gays' vamos viver em perfeita harmonia. 

Não se preocupe papai, eu já sei me cuidar, apesar dos meus 15 anos já tive várias experiências com outros caras e tenho certeza que Juan é o homem da minha vida. 
Um dia eu volto, para que o senhor e a mamãe conheçam os nossos filhos. Um grande abraço e até algum dia. 
De seu filho, com amor.' 

O pai quase desmaiando continua lendo. 
PS: Pai, não se assuste, é tudo mentira!!! 
Estou na casa da Priscila, nossa vizinha gostosa. 
Só queria mostrar pro senhor que existem coisas muito piores do que as notas vermelhas do meu boletim, que está na primeira gaveta. 
Abraços, 
Seu filho, burro, mas machoooooooooo!

11 comentários:

  1. Bicho nojento. Me causa ojeriza...Eco!
    Meire

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  2. Amei "A BARATA BARATINADA" bem elaborada a ideia.
    Parabéns amiga.
    Bjos.
    Ina

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  3. Belo espaço se inova nesse rico acervo.Brevemente estarei enviando algumas crônicas.
    Bjos.Judson Marcken (Escritor de Salto da Divisa)

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  4. Oi Mírian
    Sou Juliana Rawell, lembra-se de mim? Autora do "Jogos de amor" de Uberlândia. Quando puder me escreva para combinarmos algo.
    julie@gmail.com-
    Vc está de parabéns com seu blog, culto e belo.

    Beijos.caloroso amplexo
    Juliana
    (Essa da barata tá demais).

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  5. Que idéia brilhante, heim, amiga!
    Essa do cachorro tá demais...
    Camila

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  6. Lindo! Lindo! Esse cerco ao machismo....
    Cesinha

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  7. Maria Inês Menicucci30 de março de 2010 às 02:45

    PARABÉNS PELA NOVA ROUPAGEM PROPORCIONADA AOS NOSSOS OLHOS.
    GOSTEI INTENSAMENTE DO CONTEXTO; ALIÁS, ESPECIALÍSSIMO.
    INÂS

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  8. Muito bem danadinha !!!!
    Textos primorosos.Obrigado pelo meu.

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  9. Parabéns pelo empenho e luta bem sucedida.

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  10. Maria Izabel (mabeldrumond02@gmail.com)1 de fevereiro de 2011 às 07:55

    Mírian, esse blog é o seu retrato!!! Tudo de bom...

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  11. Muito boa aquela do guei.kkkkkkk- todas sem dúvida são interessantes!

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